quarta-feira, outubro 16

Touch me!



Dedilho a concha e faço o meu som interno.
Notas falhas, gritos sem Dó dos poros,
Sol aquece Lá que se encarrega de transferir
seu timbre em Ré
que oculta os sons mais sórdidos
do aperto e prazer que causa em Mi.

Raquel García.

segunda-feira, outubro 14

Corre-Corre dos meninos

Corre-corre do menino
sem registro
pode ser Carlos,
Daniel, Felipe,
Fabrício...
Para a pressa da rotina
não importa!
Negro, pardo
branco ou amarelo
todos parecerão iguais
cobrando os trocados
do dinheiro inválido

Passa-se das cinco da tarde
Abaixo do pôr-do-sol
há um túnel subterrâneo
um espaço demarcado por catracas
segregação,
de um lado os que pagam
do outro os que ficam
de esmola e grito
leva o dia sem sentido

O pedinte insiste
no resto do meu gole
na colherada de minha gula
Culpa "deles",
culpa minha,
culpa sua!

Por hora ganha
Outrora perde
Reparte, repete
E já são vinte e três horas
Fecham-se os portões
Travam-se as catracas
Acorrentam-se os produtos de consumo
Dá boa noite ao consumidor.

O menino corre-corre
É protagonista
da noite traiçoeira
palco do subumano
madrugada à dentro
nem um colchão pro seu alento
trilha sonora no replay
sirene em sinfonia
farda bandida
furto da vida
mais um nas estatísticas
sem nome, sem rosto

Talvez, as dezessete horas
o garoto não volte
para alcançar o resíduo do meio-dia
tanto em São Paulo
quanto em outro Estado
Cadê Carlos? Cadê Daniel?
Cadê Felipe? Cadê Fabrício?
Cadê?!

Raquel García.