quarta-feira, novembro 21

Pensamentos aquecidos pelos raios solares


Que minha loucura tenha o brilho diagonal do sol ao entardecer
Aja com inocência e exale sutilmente a indecência
O tempo descontrolado, deixo passar
Entre meus medos; sobre minha carência
Pelo sabor do meu gosto
Pela sede da água de cascata
Estejam sempre em alerta as verdades
Assim feito chuva em fim de tarde
Limpando o céu de carbono para dar cena ao por-do-sol
Continuarei insistindo nesses raios para resistir à mim
Aquecendo a alma e torrando a inquietude da mente
Oh, abstração...
Entorpecida pelo ar puro que vem da mata molhada
Faz com que meus dias incertos sejam voltados ao ser
Existir, viver e insistir, não só na matéria
Com fome de mim... sem muita eloquência
Talvez seja esse discurso destrambelhado
Os degraus do arranha-céu da existência.

Raquel García.


sábado, setembro 8

Faca de dois gumes


Se é para expormos
Vamos direto ao tudo
Tudo que interno vive
O intrínseco
O bolor
A utopia!
E se a fatalidade é o que se lança
O sonho é o que nos tira dessa dança
Rios e sois, como nós, há nascentes
O existir e repelir
Discordar e não ser omisso
Destrambelhar em linhas tortas
Não há d'us nem criaturas
Erramos e desfazemos
Sonhamos e acordamos
No entanto, redundamos...
Mas se é para dormir
Que não seja no breu
Se meus olhos pestanejam
A distorção do eu
Vamos lá
Caçar na condicionante
O prazer do sonhar
Discordando e amolando
Nossa faca de dois gumes


Raquel García

Agudice de Oxitocina



Despertai o que aqui dorme
Fazeis com que não morre
Doce criatura, toma-me
Leva-me para um canto
De preferência ao teu lado, insano
Em mim, há medos
No eu, desejos
Sobre a lua e o sol
Exale amor e nós
Para que não desate
Nosso próprio desastre
Na minha tragédia que é existir
Procuro pecados para fugir
Garoto, cruze seus braços em mim
E faça com que eu não queira deixar de insistir!

Raquel García.

sexta-feira, setembro 7

Efêmero

Somos tão efêmeros
incorporados no imenso desejo
desejo do sempre
sempre por um triz

Abocanhados pelo lobo
lobo que nos persegue
De tão primatas
nos prendemos ao material

Desintegra-se nossa essência
aos vãs prazeres
mal acasos pensados
desastrosos humanos

Preste atenção
que nesse vasto espaço
somos um ponto
pequenos e sãos

Doses de loucura 
são necessárias

Entorpecer-se diante dos raios solares
aquece o que pulsa

Aqueles de lá não o querem
correndo sempre o risco de se perder
a cada pálpebra fechada
aguardando um novo dia nascer...

Raquel García. 

sábado, junho 2

Decolagem


 Gostar é sentir uma simbiose das energias emaranhadas no súbito da novidade, que quando há essência, transcende! Não sendo necessário migalhas do resto, esse resto que nos causa tensão e cria barreiras na complementação do outro. 
Sendo eu envolvido no você feito um espelho que reflete os defeitos e qualidades, você  é tão eu, quanto eu  em você,  quase que uma mutação pelo reflexo do corpo. E desses pronomes, nada somos, nos resultamos na soma e multiplicação de cada passo dado.
 Ora! Destino, acaso? Não, isto é existir. Então não se cobre por nada, dê-me o que for cabível, aliás, façamos uma troca, troca de sentidos em qualquer lugar da maneira mais honesta, carregada de verdade, mesmo que em algumas nuances destile odores nem tão agradáveis.
 Quando abstrair-me, solte minha asas e deixe-me voar, andarilhar pela vida sem rotas, feito um pássaro que através das folhas secas de um outono, faz primavera constante dos sorrisos partilhados, aos abraços tão entregues...


Raquel García.

domingo, abril 29

O que restar


Para a humanidade sem loucura
Resta o medo de tentar
Para as coisas injustas e errantes
Fica o resíduo hipócrita
Para o amante perdido
Resta a viúva da pátria morta
Para todo prazer desatado
Fica a frustração tão limitada
Mas para todo desgosto humano
Resta e fica amor
Que sempre será a principal essência
O fio-condutor da humanidade
E para todo amor que restar
É o que fará caminhar e enlouquecer
Pois para toda verdade
Resta utopia. 

Raquel García. 

quarta-feira, abril 4

Codinome Vida

Brincando e pintando o sete
Faz piadas com jeito mambembe
Por vezes foge do meu controle
Sedenta por mais amor, chacoalha esse ser
Arranha sem dó, mas passa
Logo levanta e brinca de esconde-esconde
Sempre deixando seus gostos
 Na medida necessária cria seus acasos
Um ali, outrora aqui
E tudo muda como uma nova artimanha
São probabilidades fora de rumo
Corre, deslizando do meu olhar
Registra com um lápis cada percurso
Na palma da minha mão fez um mapa
Em minha pele, marcas de existência
A malícia toma a mente
Ingênua, astuta e peralta
Criança, não deixe de existir!
Formadora do que há em mim
És o baú de lembranças
Eis minh'alma, codinome Vida.

Raquel García.

domingo, abril 1

Ao Ben de Jorge



Vou gingando com minha Menina Mulher
Essa Tereza da Pele Preta
No País Tropical sem Síndico
Me lanço aos beijos de Paixão e de Desejo
Bela, feita  Magnólia, Que Nêga é Essa?
Leva-me a Taj Mahal no balanço de seus quadris
De fevereiro em fevereiro
Esse carnaval que não tem fim
Sou homem forte cheio de porte
Do meu samba faço rock
Respeite minha conduta
Umbabarauma filho de São Jorge
Fogo e querer, quereres e Tchê Tchê
Gostosa, gostosa...
Maravilha para sonhar com você!

Raquel García.

quinta-feira, março 22

Sinestesia

O perfume carregado de si
Instiga meu tato 
Por olhos
Molda minha língua
Que trás formas ao pensamento
Entrelaçado às palavras 
Feito beijo verbal
Nos desvios dos olhos teus
Veem aleatoriedades do empático
Sorri! Tornou-se intenso
O momento que nos é propenso.

Raquel García.

segunda-feira, março 12

Frustração

É mais fácil desidratar as rosas do que regá-las
Borradora de nossas concepções
Pulsante aguça instintos subconscientes
Fazendo de mim algodão quando forte quero ser

No abismo do invariável tapa meus olhos
Pra que eu possa sentir nos espinhos a verdadeira essência da rosa  
Arranha e dói feito a força da circunstância geradora de mim
Assim sou um filho bastardo do mundo

Massageio minhas mutantes ideias
E à frente do espelho engano-me
Volto a estaca zero por dever-me dívidas
Dívidas de se lançar aos tons do fogo

Cegamente corto seu caule
Sem tato, frígido e sem cheiro  
A rosa queima, a rosa  se desfaz

Raquel García

quarta-feira, março 7

Tentar é doce


Se deixou,  foi...
E se por algum passo
Embaso no voo de um pássaro
Embaraço-me ao acaso
Pro compasso em estragos
Escarro e dou um trago no meu cigarro
Virando cinzas os estilhaços
De assalto às ideias gim de mim faz pedaços
trazendo pra fora feito fumaça o que soa incerto 
Do seguir e moldar-se o espaço
Assim eu quero que fique longe de mim esse descompasso
O azedo do "se"
Se fosse, se fizesse
Se tentasse, se falasse
Estúpido!
Tentar é doce.

Raquel García.

quarta-feira, fevereiro 29

Ao sair, apague a luz

Voz que cala 
No escuro
Astuto

 olho que  fecha
Pro impulso
Intuito

Mãos que entrelaçam-se
No fluxo
Percurso

Respiração que para
Pro medo
Súbito

Audição que afina-se
Ao som
Profundo

Sentido que entorpece
Ao claro
Banido

Raquel García 



quinta-feira, fevereiro 23

Hoje

Imagem: Bruno Gabiru

Hoje acordei com uma vontade de voar
Me lançar ao mar, me levar à Iemanjá
Hoje acordei com malícia entre os dedos
Vou molhar o meu corpo até sentir o gosto
Hoje acordei com vontade de sorrir
Te deixar existir, te procurar e insistir
Hoje acordei cheia de ganância
Quero o mundo pra mim, serei esperança
Hoje acordei meio fora do ritmo
Te darei o céu, quiça o infinito
Hoje acordei atropelando o edredom
Te trarei aqui, treparemos ali
Hoje acordei meio Bocage
Meus pensamentos atacam mais que uma selvagem
Hoje vou ser Drummond, Espanca ou Pagu
Amarei sem restrições, sem pudor ou opressões
Hoje acordei com vontade de mudança
Vou lançar uns dreads embolados feito trança
Hoje acordei fantasiada de tudo
Sendo o meu mundo
Destabilizando o conteúdo!

Raquel García.

Bonança


Ser mais d'alma, desaguar, transbordar em rio... Tudo o que seca desalma, vira raso, cria vácuo! Sendo assim, vamos lá aquecer e alimentar o vivo, o existir,  o estar. Pegue as malas, sem mapa, sem guias. Ouse novas curvas, crie passos e seja, seja e crie...levemente leve, se leve levemente. Molde a dança da menina- Eis seu único instinto. Foco! Sabido do fim. Dissimule acreditando nas incertezas da vida, tão sacana! Avante diz a largada sem ponto de parada. Caleje, Caleje... Não haverá muitos confetes. É poeira contra o vento, vento empoeirado, poeira no vento, "Dust in the wind"... Ponto. Basta compreender o que não se entende, a vida lhe sorri sarcasticamente.

Raquel García.

sábado, fevereiro 4

Poesia Despenteada

Minha Caligrafia desajeitada 
É minha Face projetada no papel
Agudos e Circunflexos 
Prioridades que as Entonações pedem
Vírgulas e muitas demonstrações
Dois Pontos
Exclamação é puro êxtase
Confesso que é um tesão Ortográfico
Reticências atrás de Reticências
Só pra te deixar encasquetado
E trocar umas Ideias
Cercadas de Analogias e modestos Neologismos 
Vamos ao Travessão seguido de dois dedos
Pronto, inicia-se o Paragrafo 
Predestinado ao Fim
Tanto sua por Amor
Ou mais uma centelha Existencial
Sendo a Poesia Livre
Uma das artimanhas pra sentir-se Livre
E de tão Buscadora dos meus Eu's
Resolvi deixar cada um Existir aqui
Nas palavras Emaranhadas 
Que bombardeiam meu Lírico
Pretérito, Futuro não Mais-Que-Perfeito
Apenas uma brincante de Poeta.

Raquel García.

Pertinência


Na contra-mão me lanço à frente
É tudo o que se passa 
Ao meu olhar encantado
Falta-me palavras
Leve impressão do quinto andar
Grande bola iluminada
Ao observar o infinito
Perco noção da estrada
Se é pra seguir
Vou para além do que se pode ver
Entre o tudo me desperto ao nada
Curioso, deixa estar...
Eu-Pássaro noturno
Sem minha amada
Tomo partido ensaiando meu voo
Um tanto louco, oco...

Raquel García.

terça-feira, janeiro 24

Tango

Bebo desse sangue que é forte
Desesperadamente sem porte
Vou bailando
Meu tango sem encanto
Devasso pra todo o amor
À paixão que dê cor
Outrora em dor
Agora flutua
Pra quem lhe insinua
Pura oxitocina.

Raquel García.



terça-feira, janeiro 17

Manman

Foto: Arquivo Pessoal

Do útero à vida
Achego cheio de desassossego 
Quereres bem
Avante me ver
Você cuida de mim
E eu meio assim
Negar não posso
Mim sou de ti
Aquece minh'alma com sua calma
Amor, meu grande amor
Vou correndo demais
Seu olhar fugidio me deixa tropeçar
Sorriso falho
Arranhões à flor da pele
Me levam ao teu colo
onde sempre volto
Longe ou perto
É em sua retina que quero me ver
Em você me espelhar
Sempre e constantemente 
Manman.*

Raquel García.

*Manman= Mãe em crioulo haitiano.