quarta-feira, dezembro 18

Voar, antes de me afogar (Brisa do mar)


Corrente de ar
que impulsiona 
desanuviando
por entre as ondas

Maré alta
ao movimentar
ventos em escala
debaixo do luar

Em noite crescente
sob baixa pressão
transcende

Permitindo o encontro
Desvanecido e fulgente
da brisa com o mar
que vai...vem...
Quente!

Raquel García.

quinta-feira, dezembro 5

Mandela


O ancestral lhe guiou
sendo a voz de um povo
por todo o percurso
insistiu do começo ao fim

Dentro do claustro
sob o sol quadrado
Resistiu!

Tornou-se presente
como espelho da luta
humana e social

Consciência,
Pai da pátria
em liberdade
se foi.

Madiba, presente!

Raquel García.

quarta-feira, novembro 27

Pequeno palco do asfalto

Semana passada a vizinhança perdeu o sono
Mais um menino na calçada
Anônimo
Acertado por uma bala
Tiro ao alvo da madrugada
Dos homens que glorificam a farda

Hoje, um senhor no asfalto
Poderia ser meu pai
Teu, ou dele
Duas horas sob um concreto
Seu corpo em ritmo epilético
Quatro vezes em convulsão

Novamente vem os homens cinzas
Com postura passiva
Ao coro por ajuda
Dos civis em adrenalina
190,192,193...
Pra quê?
Vejo o homem roxo
Comentários à torto
Gente estúpida!

Que importa se ele não estava ébrio?
Que importa sua vestimenta suja?
Que importa a inconsciência de si?

Samu,
Hospital Santa Marcelina
Não rogou por nós
Nem por vós
Estamos a sós!

Raquel García

segunda-feira, novembro 18

Fumaça

pulsei com mais fôlego
traguei meu corpo
incorporei-me no ar
desafiei meus sentidos
sobre o teto caminhei
por força dos pensamentos
imersos de sal e sol,
eu transcendi,
disritmei,
descomedi.

Raquel García

quarta-feira, outubro 16

Touch me!



Dedilho a concha e faço o meu som interno.
Notas falhas, gritos sem Dó dos poros,
Sol aquece Lá que se encarrega de transferir
seu timbre em Ré
que oculta os sons mais sórdidos
do aperto e prazer que causa em Mi.

Raquel García.

segunda-feira, outubro 14

Corre-Corre dos meninos

Corre-corre do menino
sem registro
pode ser Carlos,
Daniel, Felipe,
Fabrício...
Para a pressa da rotina
não importa!
Negro, pardo
branco ou amarelo
todos parecerão iguais
cobrando os trocados
do dinheiro inválido

Passa-se das cinco da tarde
Abaixo do pôr-do-sol
há um túnel subterrâneo
um espaço demarcado por catracas
segregação,
de um lado os que pagam
do outro os que ficam
de esmola e grito
leva o dia sem sentido

O pedinte insiste
no resto do meu gole
na colherada de minha gula
Culpa "deles",
culpa minha,
culpa sua!

Por hora ganha
Outrora perde
Reparte, repete
E já são vinte e três horas
Fecham-se os portões
Travam-se as catracas
Acorrentam-se os produtos de consumo
Dá boa noite ao consumidor.

O menino corre-corre
É protagonista
da noite traiçoeira
palco do subumano
madrugada à dentro
nem um colchão pro seu alento
trilha sonora no replay
sirene em sinfonia
farda bandida
furto da vida
mais um nas estatísticas
sem nome, sem rosto

Talvez, as dezessete horas
o garoto não volte
para alcançar o resíduo do meio-dia
tanto em São Paulo
quanto em outro Estado
Cadê Carlos? Cadê Daniel?
Cadê Felipe? Cadê Fabrício?
Cadê?!

Raquel García.

sexta-feira, setembro 20

Machão tolo de cada dia

-Ei, psiu!
Gostosa, delícia
Ôh lá em casa
De quatro deve ser um tesão
Vem cá morena
Negra tipo exportação!

Diariamente
Assediar mulher
É exercício do machão
O manual do tolo
te deixa entrar no elevador primeiro
Pra dar aquela olhada no seu traseiro


Foda-se se não permite,
acredite, você sempre será a responsável 
Ele vai roçar,
sussurrar e ainda ironizar


Verbalizar com coisas não funciona
Aceitar é covardia
Refletir e conscientizar
É força contra esse estupro verbal
Fiu, fiu não é elogio
Calada não vou ficar.


Raquel García

sexta-feira, setembro 6

Corpos

Cena do filme "Febre do Rato"



Ah como eu gosto da textura da extensão e do tesão da volúpia dos corpos da matemática do 69 por 24 A transcendência das línguas compartilhadas Do mapeamento de cada marca, Celulite, cicatriz Bela geometria dos traseiros e membros que tomam formas Ângulos distorcidos O encaixe do imperfeito por cima ou por baixo 360º Vulva que se abre Detalhes endurecidos Suor que se funde A nos somar e derreter Sendo livres e crus Bichos vira-latas Sanando o prazer da espécie.

Raquel García.

segunda-feira, setembro 2

Tempo

Com você, no estalo do beijo parou-se o tempo Ao fechar dos olhos era Agosto na despedida setembro Que venham bons ventos novos dias para os beijos de dezembro
Raquel García.

terça-feira, agosto 13

Encontro

há de haver o encontro
quando perto
sincronizamos

no meio do caminho
há de haver
sem essa de destino

o ser
dentro de um
e do outro
não anula
desanuvia

em minhas pupilas
reflito a assimetria
cismo
liberdade
minha
e sua

quando em horizontal
nos encaixamos
é o dia que do tempo
nos dissipamos

há de haver a despedida
para refazermos

 encontro

retornamos
ao princípio
de deixar-se levar
ao ponto

tão novo
quanto o amor
que dispomos

Raquel García.

quarta-feira, julho 24

Reconheça-se negrx

Imagem da web

O sexismo impregnado
nos discursos camuflados 
atente-se ao 25 de julho,
assim como o 8 de março 
Não faça apenas uma alusão
desintegre seu machismo
compreenda a evolução;
minha e sua!
Escape da tolerância
do cavalheirismo
da pirâmide
e conservadorismo
exemplos de açoites contemporâneos
onde ferem a minha pigmentação
vá e reafirma,
cotidianamente
a força feminista
Diversidade é ser reconhecida
se distinguir nos espaços
não sendo mais um produto exótico,
uma causa apenas digerida
por sua posse e seu senhoril;
fatalmente invadida!


Raquel García.






quarta-feira, julho 10

Empatia

Por entre os espaços mal ocupados
há de ver, pousar e sentir
a criação do desejo desatinado
colorirá um retrato

nos metros,
quilômetros dos passos
haverá aqueles que debocharão
a própria penúria,
nas lacunas de longas filas

o entrecruzar cotidiano
lhe dará fôlego para o inesperado,
o encontro das ideias
presumirá a destrambelhada empatia

é um renascer
de dias que morrem
quando não se lê
os recortes da corrida ordinária
de um dia-dia em terra paulista.

Raquel García.

segunda-feira, julho 1

Endorfina

dois corpos,
audaciosa aventura 
das caras deslavadas

percebo o sentido do silêncio
 nos recônditos periféricos 
dessas estórias escancaradas

mergulho na insensatez
respiração afobada
faz do tempo uma invalidez

sutileza estampada
no gosto do gozo
 paixão gradativa

endorfina,
válido é o que vem da alma
estado de ressaca

sonolência, 
em linhas assimétricas
abraça-me e ama.

Raquel García.

sexta-feira, maio 31

De passagem...

 
      O cérebro ativo, barulhento e alimentado por extensos parágrafos é arranjo para a simbiose que a aleatoriedade dos espaços dispostos vem a multiplicar e propor infindáveis desajustes para se organizar no meio e nas margens do caos.

quarta-feira, maio 8

Devaneio

Livres, feito cobaias dentro do que somos; do que és
Vivenciando os próprios medos, auto-destruição da subjetivação
O impalpável não tem nome, não há senhores, muito menos donos
Vai e lança-te à dança, ciberneticamente...
A omissão dos próprios quereres é o assassinato mais cruel
É a morte vegetativa da própria existência.


Raquel García.

terça-feira, abril 23

Fragmento da liberdade


Páginas brancas, amareladas e manchadas
Perfuminho de Sebo, embalagem do novo
Letras em suas variáveis formas me interessam.
Faço orelhas e marco os movimentos das páginas
Cotidianamente faz  companhia 
Para a solidão de uma paulista
É romance, narrativa, crônica, ficção científica
Do prefácio aos agradecimentos
Sacoleja minha minha mente
Abarrota a existência, borbulha, transfigura;
Fazendo de mim, um ser liberto e in(can)descente!


Raquel García.

sexta-feira, abril 19

Somos todos ameríndios

Os efeitos da colonização 
Ainda é uma ferida aberta
Sepultaram os donos da terra
E hoje, seus descendentes penam
Sobre a rotação do capital
Vivenciam o genocídio em massa
Onde suas etnias se liquidificam


Homens ditos civilizados
Carregam a desumanidade e a cruz
Silenciando o canto da terra
Mas para aqueles que sobrevivem
Passa-se de geração a geração
o protesto e a reinvidicação

São os índios, os verdadeiros donos do Brasil
Marcaram em mim a ascendência ameríndia
O grito que não deve ser banido
Nós estamos contra a força armada
Contra o poder público ilegal
Pois somos Xingu, Kaiowá,
Xerente, Munduruku, Tubinambá...


Raquel García.

terça-feira, abril 9

Translação

Sobre a linha que se põe
E a linha que nasce
Em movimento de translação
Hora beijo em sol
Hora estalo os lábios em lua
no céu, na tua
entre o fechar do olhos,
na boca sua!
Além do espaço
Cá me encontro
Na inquietude horizontal
dos corpos sem gravidade

que sucumbem o desejo dimensional

Raquel García.

domingo, março 31

Doce e amarga, igual o café.

Os ramos que ferem as palmas de minhas mãos
marcam a simbiose dos sentidos que ilustram
meus olhos fixos e famintos 
naquele gosto de café agridoce

São várias xícaras sobre um pires sem fundo
por serventia de uma negra desbotada pelo mundo
brisa que bate em minha face sensível
frutifica a raiz que se perpetua na terra ácida

O cheiro forte e marcante do café
ficou no solo adubado pelo sangue
sangue que esvaiu de minhas costas chicoteadas
perfume do ancestral numa terra açoitada.


Raquel García.


terça-feira, março 5

O marco em março

Ser humano; MULHER!
Num saguão de cinzas
Não há perfume da rosa
Sobraram os vestígios
lembranças da luta
do manifesto e do luto
Que não se pode apagar
da história e memória

Alcancemos a consciência
leitura, prática e respeito
Pela fome por igualdade 
De março a março...
todos os dias possíveis
Enquanto nos sufocar
a ortodoxia da inconsciência
presente na humanidade.


Raquel García.

quarta-feira, fevereiro 27

Conhecimento é arma

Que a justificativa do soco, não seja a minha postura
Que a culpa do meu choro de dor, não seja a minha roupa 
Que o rótulo “passional”, não camufle a opressão
Que pratos e panelas não sejam o meu divertimento de infância
Roubando minha autonomia e fazendo com que eu seja
Um molde e reflexo de uma cartilha ultrapassada
De como devo me vestir, pensar e agir.
Sou humana, e não é minha genitália que vai me fragilizar
Não é o meu corpo escultural, magro ou gordo que vai dizer 
Como você deve me estereotipar ou mandar!
Olhe, estou armada!
Tenho conhecimento e uma boca para falar.

Raquel García.

quinta-feira, fevereiro 14

Desinfectação Mental

A desinfectação mental
produz ideias
à prova desse pudor
que se desenvolve
nas falácias do tumor social
e vestígios ditatorial
só lamentos...

Sobre a recusa das contradições
da incompletude
e distinção dos loucos
o ser livre e consciente de si
gera disritmia
no pulso do conservadorismo

Submeter-se não é preciso!
Fiquemos nus e sejamos sapiens.
Que sejam feitas as vossas vontades
despindo a carcaça dos conceitos
pré-moldados e lacrados

Raquel García.

domingo, fevereiro 3

Ao que se faz

Que haja amor
ao se encontrar
sendo útil
para proliferar-se
na própria arte


Que haja amor
em cada ação
ao tornar-se mamebmbe
em meio ao cotidiano


Que haja amor
nesse anseio
por evoluir
e não marcar
Os números
Dígitos comuns
e estáticos.


Raquel García.

quinta-feira, janeiro 24

Sobre o breu na claridade


A ignorância camufla o ser
Sobre a estética que oprime a base
Seres oprimidos
Atraídos pelo marketing
Do quão belo é pertencer à classe C
Que em desenvolvimento
Proporciona o falso conforto
Na pseudo-catarse
Que ao longo da história
Vossa Excelência sempre buscou
passar a borracha branca nos escritos
E assim, dizem por aí
Que a distinção de cor é algo ultrapassado
Virou tabu esses indivíduos
Da cor do por-do-sol
Da noite brilhosa e jabuticaba
Pois "harmonia" predomina
Na pirâmide predadora
Do Estado de coisas.

Raquel García.