cores alaranjadas
contrastam com o cinza
transitam dia a dia pelas calçadas
carregando pá e sacolas
passam por vielas,
passam por vielas,
escadas
por entre as vias
são tão invisíveis
feito as pets
arremessadas
na rua ou na estrada
desde os paralelepídos
às encostas
batucam, varrrem
pintam e recolhem
não são tão felizes
quanto a imagem do Sorriso
que globo se apropria no carnaval
e nos dias que correm
recolhem o mal-estar social
aquele acúmulo
do exacerbado consumo
carros, ônibus e pedestres
depositam seus dejetos
feito chuva torrencial
por toda parte
ainda há de se ouvir
que aquilo é o que deve servir
esses homens e muitas mulheres
sob sol ou chuva
percorrem as falidas metrópoles
advindas de uma coroa velha
república antagônica
soterrados no próprio lixo
lixo urbano
das gentes,
que somos nós
ditos cidadãos
urubus ambulantes
e quando garis cruzam os braços
isso é manifesto, revolta
sem necessidade de teoria
ou manual de rebeldia
é o povo!
a culpa não é deles
sobre os resíduos por aí
é simbólico
o cheiro do ralo
advindo do nosso próprio modelo
de sociedade
vagando em desconcerto
e descaso.
Raquel Garcia.
Raquel Garcia.