terça-feira, abril 8

Lixo social (ou espelho do ter)

cores alaranjadas
contrastam com o cinza
transitam dia a dia pelas calçadas
carregando pá e sacolas
passam por vielas,
escadas

por entre as vias 
são tão invisíveis
feito as pets 
arremessadas 
na rua ou na estrada

desde os paralelepídos 
às encostas
batucam, varrrem
pintam e recolhem

não são tão felizes
quanto a imagem do Sorriso
que globo se apropria no carnaval
e nos dias que correm
recolhem o mal-estar social

aquele acúmulo
do exacerbado consumo
carros, ônibus e pedestres
depositam seus dejetos
feito chuva torrencial

por toda parte
ainda há de se ouvir 
que aquilo é o que deve servir
esses homens e muitas mulheres

sob sol ou chuva
percorrem as falidas metrópoles
advindas de uma coroa velha
república antagônica

soterrados no próprio lixo
lixo urbano
das gentes, 
que somos nós
ditos cidadãos
urubus ambulantes

e quando garis cruzam os braços
isso é manifesto, revolta
sem necessidade de teoria
ou manual de rebeldia
é o povo!
a culpa não é deles
sobre os resíduos por aí
é simbólico
o cheiro do ralo

advindo do nosso próprio modelo
de sociedade
vagando em desconcerto
e descaso.

Raquel Garcia.